Na aldeia existia um forno, pertencente à casa real, no qual toda a população cozia o seu pão.
Ao amassar o pão rezava-se:
S. Mamede te levede
S. Vicente te acrescente
E nosso Senhor
Te deite a sua divina bênção.
Pai-Nosso
Ave-Maria
O pão era levado para o forno em masseiras, então tinha-se o cuidado de levar a parte com mais massa para a frente.
Segundo as pessoas esta prática era para evitar que a “fome” e a miséria abarcasse a população.
Para que as sementeiras produzissem era necessário saber as características do clima melhor de casa mês, então surge:
Janeiro geadeiro
Fevereiro rego cheio
Março amoroso para fazer o pão formoso
Abril queima carro e carril
e uma cheda que ficou ainda Maio a queimou
e o mês de S. João ainda queima o chavelhão
Práticas usadas aquando da realização do casamento:
Devido à união existente entre os elementos desta comunidade, não era permitido o casamento de jovens com jovens de outras terras, e se por acaso isso acontecesse, o rapaz tinha que dar provas para que pudesse penetrar no seio do grupo.
Quando por fim era aceite tinha que pagar o dito “castelo” que consistia num pipo de vinho e uma quantidade de pão correspondente à sua altura.
Hoje em dia (por vezes) ainda se brinca com essa prática.
Na noite anterior ao casamento, a noiva era obrigada a andar pelas ruas da aldeia a distribuir por todas as casas o arroz-doce, alguns bolos e carnes assadas. Se, por acaso, alguma das casas era esquecida, isso era considerado uma ofensa.
Pelo S. Martinho:
Pelo S. Martinho, e à noite, juntavam-se um certo numero de homens com um boneco (feito de uma abóbora), com uma vela na mão cantando às portas, para que lhe fosse dado vinho.
Outras das práticas desaparecidas foi a quantidade de jogos tradicionais que se jogavam sobretudo na Quaresma, de entre os quais destaco: - o púcaro, a reza, a pela . etc.
A reza que é um dos jogos mais antigos consistia em uns quantos jovens serem escolhidos para rezar e para que deixassem de ter essa função teriam de andar pela rua para verem os restantes; então diziam:
- “és tu a rezar”.
Por fim, no dia de Páscoa os que ficavam a rezar tinham que pagar as amêndoas aos outros todos.
LENDAS- Existem também duas quintas apelidadas de: Fonte Arcada e Falcão, sob as quais surge:
Entre a Fonte Arcada
e o Falcão
há uma grade de ouro
e um cambão
Segundo as pessoas e tendo por base a estadia dos romanos por estes lados acreditam existir aí peças de ouro enterrado. Uns acreditam serem o cambão e a grade de ouro, para outros são apenas símbolos do que possa existir e para outros ainda não passa de uma mera lenda.
Apesar de as pessoas (principalmente as mais velhas) crerem nela nunca ninguém se aventurou a desvendá-la!!! Porquê? Ninguém sabe…
Ainda relacionada com as lendas e tendo em atenção a capela da qual se falou em primeiro capitulo surge a crença de que a capela foi construída pelo facto de ter aparecido aí Nossa Senhora.
Então surge:
Nossa Senhora das Neves
Está sentada na pedrinha
Oh! Tão baixa cadeira
Para tão alta Rainha.
CANTARES EXECUTADOS DURANTE OS TRABALHOS
TECEDEIRA
I
O traje da tecedeira
Quando vai para o tear
Bom sapato e boa meia
Boa liga de apertar
II
Aprendi a tecedeira
E não estou arrependida
Passa o meu amor na rua
Eu no tear escondida
III
Senta-te aqui António
À sombra do meu tear
Enchemos duas canelas
O povo deixa-o falar
AS VOLTAS DO LINHO
I
As voltas que o linho leva
Até chegar ao tear
Não dava eu tantas voltas tirana
Como já dei para te amar
II
Ó Rosa tirana ó Rosa
Ò Rosa que eu já lá vou
Dá vida a quem te deu vida tirana
Dá morte a quem te roubou
MOLEIRINHA
I
Ai que lindos olhos tem
Ai a filha da moleirinha
Tão mal empregada é ela
Andar ao pó da farinha
II
Trigueirinha me chamaste
Ai eu de sangue não sou
Isto é de andar à farinha
Foi o sol que me crestou
III
Trigueirinha me chamaste
E eu não me escandalizei
Trigueirinha é a pimenta
E vai á mesa do rei
CANTARES DE RODA
SIGA A RODA
I
Siga a roda siga a roda
Que eu também lá quero ir
Eu sou rapariga nova
Quero-me ir divertir
II
As “madames” vão ao meio
Também lá vão os pimpões
Já não há quem queira amar
Os nossos dois corações
III
Os nossos dois corações
Dentro dum prato lavado
Que bem parece a noiva
Ao lado do seu namorado
MINHA MÃE LÁ VEM O JORGE
I
Minha mãe lá vem o Jorge
No seu cavalo montado
Deixa-o vir minha filha
Que ele já vem enganado
II
Minha mãe matei o Jorge
Vou-me entregar à prisão
È a maior alegria
Que levo no coração
III
Que deitaste neste corpo
Que deitaste neste vinho
Eu já tenho a vista pálida
Já não enxergo o caminho
Ó PRIMA Ó RICA PRIMA
I
Ò prima chama-me prima
Ó prima não te sou nada
D’onde veio ele agora
Essa nossa primarada
Ref.
Ó prima ó rica prima
Ó prima ó bela aurora
Ó prima ó rica prima
És tão linda p’ra que choras?
II
Adeus ó Carragozela
Rodeada de olivais
Tem rapazes muito lindos
Raparigas muito mais
III
Eu hei-de m’ir desta terra
Segunda-feira ou terça
As saudades que eu levo
Queira Deus não adoeça
ORAÇÕES
Orações muito antigas subsistem na mente das pessoas.
A entrada para a Eucaristia rezava-se:
Nesta igreja vou entrando,
água benta vou tomando.
ó pecados, ficai aqui,
que eu vou dar contas a Jesus,
que há dias não o vi.
Ao ajoelhar:
Aqui me ajoelho
muito triste e aflita
Dai-me olhos com que veja
coração com que vos assista.
Vinde, vinde, cavalheiro honrado
com as armas de Cristo armado
Salva a ti!
Salva a mim!
Bendita seja a hora que vim.
Durante a comunhão:
Nesta mesa me ajoelho
nesta mesa divinal.
A minha alma seja digna
de receber tão digno manjar.
Ó manjar tão delicado,
que vem das mãos do senhor!
Vinde, Vinde, Senhor, Vinde,
Vinde, Vinde, não tardeis!
Tomar conta da minha alma,
não Vos dela aportais.
Durante a mudança de missal:
Já mudaram o missal,
já mudaram as flores do campo,
já mudaram a minha alminha,
para o divino Espírito Santo.
Quando se encontra numa encruzilhada as almas:
Deus te salve, cruz bendita,
que no céu está escrita!
Na terra assinalada,
os anjos te acompanhem!
E acompanhem as nossas almas,
Para que nossas benditas almas
Nos acompanhem na morte e na vida,
com Deus ando
Pai Nosso
Avé – Maria
Ao deitar:
Com Deus me deito,
com Deus e com a Divindade
com as três pessoas da Santíssima Trindade
Cruz na testa,
Cruz no peito,
Cruz na cama onde me deito.
Lado aberto,
Chagas de Cristo,
Lembra-me sangue de Jesus Cristo
Com Deus me deito
com Deus e com a Divindade
com as três pessoas da Santíssima Trindade
Deus te desça do céu à terra
Deus te desça entre mim!
Lado aberto,
chaga de Cristo,
lembra-me o sangue de Jesus Cristo
Para que todos fossem à doutrina:
Vamos à doutrina,
aprender o que se ensina.
Esta vida é penitente,
não dura mais que uma mente.
Quem lhe há-de tomar fundamento
Virar os olhos ao céu?
Lá verás rosas,
bem belas bem cheirosas
Na arca da Santíssima Trindade.
Quinta-feira pela luz!
Chamou por Pilatos.
Temos temerato
temos temeria
quem esta oração disser
três vezes à noite e três vezes ao dia,
as portas do céu verá abertas
as do inferno nunca veria.
Outra oração aparece sem função tão específica:
Jesus Cristo vai dizer missa
à igreja da solidão
onde está S. Pedro
e também S. João.
Também os doze apóstolos
à sua mesa comer pão
disse Deus aos seus discípulos:
- Andem cá, filhinhos meus,
que vos quero confessar
amanhã, pela manhã,
eu vos dou de comungar:
- Meu corpo serve de hóstia
o meu sangue vinho real
três vezes quando se deitar
três almas há-de salvar:
a de seu pai, de sua mãe
e de sua em primeiro lugar.
Os pecados que tiver,
Deus lhos há-de perdoar
à hora da sua morte
quando estiver para acabar.
Quando ementavam as almas, rezavam:
Ò vós que estais dormindo
nesse sono tão profundo
lembrai-vos de benditas almas
que estão no outro mundo
Altas vozes vão no céu
para sua majestade.
Lembrai-vos da Stª. Cruz
E da Santíssima Trindade
Existia uma oração que protegia dos perigos, surge então o responso:
“O justo juízo Divinal”
Justo juízo divinal
que em Belém foste nascer
no vale de Nazaré foste crucificado
no meio de toda a judiaria
meu Divino Senhor
eu vos peço por vosso
justo juízo Divinal
que ao meu (nome da pessoa a quem se dirige a oração)
lhe não aconteça nenhum mal:
não seja preso, nem morto,
nem em justiça envolto.
se tiverem olhos, não vejam;
se tiverem boca, não lhe falem
se tiverem braços, não bracejem
se tiverem pernas, não alcancem.
surdos, mudos ou enfraquecidos
seja a força dos seus maiores inimigos
Deus disse aos seus discípulos.
na arca de Noé está ele arrecadado
que o sangue da virgem está borrifado
com três pares de hóstias
que nosso Senhor consagrou
ao terceiro dia.
Dá-lhe doce companhia
com que ele ande com Deus,
e paz e alegria com Deus ande
Pai Nosso
Avé – Maria
Em louvor do Senhor vivo,
me livre de todo o mal
e de todo o perigo.
Em louvor do Senhor morto,
nos livre do mal e do mau encontro.
Em louvor do Senhor são Crucificado
nos livre da tentação e do pecado.
Mais uma oração se rezava:
Triste noite escura,
lá por rigor do Inverno,
morreu uma criatura,
sem sacramentos,